quinta-feira, 16 de fevereiro de 2017

O dia em que o papai morreu...

Morrer é a única certeza que se tem nesta vida. Mas por que é então que dói tanto perder alguém?
Ego, apego, permanência, costume, AMOR?
Faz 6 meses que perdemos o papai. E com certeza absoluta o dia mais difícil da minha existência foi, de longe, o dia em que tive que dar a notícia da morte do pai para os meus filhos.


...eu tinha passado a noite praticamente em claro, pensamentos não paravam de pipocar e uma dor no peito insistia em me despertar toda vez que eu ensaiava pegar no sono. Eu só rezava e pedia a Deus forças para poder dar a notícia para as crianças na manhã seguinte.
O dia nasceu e trouxe com ele meus dois filhos de 7 anos que tinham passado a noite na casa de uma amiga. A hora tinha chegado...
Pedi retaguarda a um casal de amigos e subimos nós 5 para o quarto onde teríamos a conversa mais séria da nossa vida.
Sentei os dois na cama e me sentei ao lado deles.
"A mamãe tem uma coisa para contar para vcs. Uma coisa que a mamãe jamais queria ter que falar para vocês: o papai foi para o céu e está lá agora com a titia e o vovô".
Meu filho me olhou e falou "você está brincando, né? É mentira!"com aquele olhar desesperado de quem quer dizer "por favor, não me diga que é verdade mesmo, eu não quero ouvir isso"...
Minha filha ficou em silêncio...
Nós três nos abraçamos e começamos a chorar juntos.
Enquanto isso, eu ia falando que nós nunca íamos nos separar e que o papai agora tinha virado um anjo lindo e gigante e que ia nos proteger para sempre lá do céu. E que sempre que tivéssemos saudades dele, ou ficássemos tristes, ou com raiva, ou com medo, que deveríamos nos juntar e rezar para ele.
E é assim que temos feito sempre, até hoje.
No começo eles tinham muitas dúvidas, muita curiosidade sobre a morte e tudo o que a cerca, e eu nunca deixei de responder ou dizer que não sabia a resposta. Nunca tratei a perda do meu marido como um tabu. Não deixamos de falar dele, de citá-lo, de lembrá-lo de elogiá-lo.
Nunca evitei de chorar na frente deles. E quando choro e eles perguntam, eu sempre digo que estou chorando porque estou com saudades do papai, ou porque estou emocionada lembrando de alguma coisa do papai... Eles me abraçam, às vezes choram também, depois enxugamos as lágrimas e sorrimos juntos.
Hoje, as crises de choro têm se espaçado mais, as perguntas estão mais raras, mas o pai continua vivo na memória deles.
Não tem como dizer que não foi um trauma. A perda de alguém amado é sempre muito triste, para dizer o mínimo. É um trauma no sentido de quebra, de divisor de águas na vida de todo mundo. Mas não fizemos disso uma coisa ruim, nem "traumática" e, definitivamente, a morte do pai não virou um tabu para as crianças.
Daqui para frente, só o futuro poderá dizer se o que fiz foi certo ou errado. Mas eu definitivamente ouvi meu coração e agi com a sinceridade de uma mãe que quer ver bem seus filhos.

E eu?
Estou tentando sorrir quando tenho vontade de chorar, levanto da cama cedo todos os dias quando tenho vontade de ficar, dôo um pouco mais de mim a cada dia quando acho que minhas forças chegaram ao fim.
E assim estou seguindo, acreditando em dias sempre melhores, reverenciando o passado e vivendo profundamente o presente com todos os seus desafios. Aceitando, amando, acreditando e agradecendo sempre. Ainda que isso às vezes possa parecer inverossímil.
O segredo? Acreditar em Deus. Saber que uma força maior, uma inteligência superior está comandando tudo isso e sabe o que está fazendo. Infelizmente às vezes, só quando o chão falta sob nossos pés nós entendemos isso. Quando nada mais nos resta nós aprendemos na raça o que é ter fé. E aí, ou você tem ou você sucumbe. E se é assim que tem que ser, então que assim seja.

Eu confio, eu entrego e acredito.
Eu escolho viver. Eu escolho ser feliz. Eu escolho fazer dessa história não uma história triste, mas uma lição de vida. Eu escolho ser uma pessoa melhor a cada dia para mim e para os meus filhos...